MANIFESTO
PAREM DE FAZER CONSTELAÇÃO
Fechar o Campo - Um Chamado Ousado!
Nos corredores do mundo da Constelação Familiar, tornou-se comum ouvir sobre "abrir o campo". Como se ao abrir o campo (seja lá o que isso signifique na cabeça das pessoas), tudo se tornasse revelado, tudo se realinhasse magicamente, tudo fosse resolvido em um passe de energia ancestral.
Mas, e depois? O que acontece quando as portas estão sempre abertas, mas nunca são fechadas?
Minha experiência de nove anos atendendo como consteladora me levou a um insight incômodo, mas urgente: muitas pessoas estão adoecendo não por suas histórias familiares em si, mas pela forma como lidam com a própria Constelação. Um fenômeno preocupante tem se manifestado: a dependência excessiva do campo.
Muitas pessoas abrem, abrem e abrem campo, mas nunca o fecham. Nunca integram. Nunca assumem a responsabilidade por suas próprias escolhas e seus próprios passos. Como se estar em um eterno ritual sistêmico fosse suficiente para garantir mudança. Como se o simples ato de mexer no campo fosse mais importante do que colocar em prática as leis sistêmicas no dia a dia.
Aqui lanço uma frase, uma expressão, um conceito radical e necessário: Fechar o Campo!
Fechar o campo é um ato de coragem e confiança em si (na sua voz interna). É a decisão arrojada de tomar a Constelação como uma fase, uma mini-etapa que impulsionará sua vida e não algo que "preciso repetir para me sentir seguro/ segura" . Buscamos Constelação com o pensamento focado: é uma mini-etapa, depois eu sigo! Fechar o campo é a transição do ritual para a integração. É sair do fascínio pelo campo rumo ao basicão do cotidiano. Menos dopamina, mais dia-a-dia. Menos superestimulos, mais vida diária.

PURIFICAÇÃO
A Constelação Familiar não é uma técnica a ser usada indefinidamente, eternamente. Ela não é um refúgio permanente, não pode se tornar um eterno ciclo. Isso se chama vício. Quem entra precisa sair. Sair é o ápice! Este é um movimento de purificação. É um ponto de virada. A revelação de padrões ocultos que, ao serem vistos, precisam ser transformados em ação, não em mais-uma-sessão.
Quanto às leis sistêmicas, aí sim é outra história - Ordem, Pertencimento e Equilíbrio - são princípios para a vida inteira. A elas sim devemos atenção para que não sejam apenas vislumbradas de relance num abre-campo e depois esquecidas quando voltamos para casa. O problema não está na Constelação, mas na sua distorção como uma muleta infinita, um altar onde se retorna incessantemente sem nunca partir. Cuida para não fazer de grupos, igreja! Aí, a lei do pertencimento, por exemplo, no seu lado mais sombrio, ativa o amor-cego. Vou dizer de outra forma: é quentinho e gostoso pertencer a um grupo, mas a gente precisa transcendê-los - sempre! Por isso Bert e muitos outros autores já declararam algo assim: "o sucesso é solitário".
O fascínio pela Constelação sem compromisso com a mudança-de-fato tem levado muitas pessoas a uma confusão na alma. A repetição exaustiva de sessões pode levar a uma dessensibilização, onde as imagens e mensagens perdem o impacto inicial. Quando se recorre constantemente ao campo sem internalizar suas revelações, cria-se uma falsa sensação de progresso até que - pow! - a pessoa passou cinco anos abrindo-campo e diz "foi bom, aproveitei algo, mas estou sem sentido, nada brilha mais meus olhos...". A dopamina não faz mais efeito, agora o jeito é pular de bungee jump, certo? Estou sendo irônica, claro. Mas, o que vem depois de tanto palco e estímulo? O que vamos oferecer ao cliente que o co-mova? Tudo virou espetaculoso demais. Tem que ter luz piscando, holofotes, cheiros, músicas, telão, histórias fortes, choro e ranger de dentes - do contrário dizem: “constelei, mas sei lá se aconteceu mesmo, eu queria sentirrr..."
O objetivo de uma Constelação bem-feita não é apenas revelar o que está oculto, mas gerar um movimento de alma que promova ação, concretude e mudança que dure. Que dure! Quando se repete o processo sem permitir que os ensinamentos se sedimentem, o efeito rebote pode ser devastador. Ao invés de promover segurança e autonomia, esse vício no campo gera fragilidade emocional, dependência e uma busca incessante por respostas externas, quando o foco deveria ser o desenvolvimento da própria força interna. Vou repetir pois isso é muito importante: esse vício no campo gera fragilidade emocional, dependência e uma busca incessante por respostas externas, quando o foco deveria ser o desenvolvimento da própria força interna.
EMANCIPAÇÃO
Fechar o Campo é um convite para a emancipação. É um chamado para parar de olhar para trás com medo e começar a olhar para frente com confiança. É compreender que, depois de receber a revelação do campo, a jornada precisa ser assumida por nós mesmos. Você vai errar, você vai cair, você vai adoecer, mesmo estando constelado e tendo olhado para suas dinâmicas sistêmicas. Vou repetir: você vai errar, você vai cair, você vai adoecer mesmo sendo “um-constelado”. A diferença é que agora você vai cair, adoecer, errar estando mais consciente que antes. E, estando mais consciente de suas pendengas, você ganha poder para empreender mudanças. Sem choro, nem vela. Sem olhar para trás e mais outra vez pensar em "abrir o campo" para averiguar se tem "mais algo que não vi ainda e está me ferrando."
Chega! Para de buscar pêlo em ovo! É óbvio que o nosso passado está lotado de tragédias, mortes e vida. Todo clã tem em seu passado histórias de assassinato, suicídio, loucos psiquiátricos, mães adoecidas, pais que foram embora, filhos abandonados, abortos, matança e por aí vai. Tem dúvida disso? Todo clã tem suas muitas histórias sombrias. Se você fuçar, vai achar. Por isso Hellinger dizia "é preciso deixar o passado virar passado". E, é por isso que estou escrevendo este Manifesto: feche seu campo e segue! Ele é maior que você, criatura! Seu passado é gigantesco. Desperta! Seja humilde! Vai!
Fechar o Campo significa entender que a verdadeira mudança ocorre no tédio do cotidiano, nas pequenas escolhas diárias que honram as leis sistêmicas e constroem futuros. Significa aceitar que a responsabilidade pelo próprio destino não pode ser terceirizada para uma série de rituais repetitivos. Significa libertar-se do passado sem carregar um peso desnecessário, sem temer os ancestrais, sem precisar de confirmações constantes de que se está no caminho certo. Crie sua voz interna, fortaleça sua voz interna, ouça-se mais!
Já passou da hora de romper com a ideia de que a Constelação (clássica) é uma chave mística para todos os desafios da vida adulta. Já passou da hora de encarar a vida com o que ela exige: maturidade, responsabilidade, ousadia, confiança e autonomia. Constelação é um movimento de encontro com a verdade. Mas a verdade precisa ser levada adiante. Fechar o Campo é sair do estado de espera (ou de pseudo movimento) e entrar no estado de protagonismo-humilde. Fechar o Campo é saber a hora de parar, de confiar que o que foi visto foi suficiente e que a transformação já está brotando. É seguir em frente com gratidão, trazendo consigo o que já foi compreendido. É agir com a certeza de que a vida se desenrola do presente para o futuro, não na eterna contemplação do passado. Olhe-se no espelho e diga-se: foi o suficiente! Foi o suficiente! Agora eu sigo!
CONFIANÇA
Portanto, a mensagem final deste manifesto é simples: Se você já abriu o campo 3 ou 4 vezes e viu o que precisava ver, faça algo com isso. Feche o campo e siga em frente. Olhe agradecidamente para o passado, reverencie-o, vire-se e vá de uma vez por todas. Porque o futuro é o que você escolhe agora.
P.s.: não caia na tentação da voz que vai retumbar dizendo "mas, eu tenho muitos temas". Eu lhe digo: confia! Não temas, não mais temas!
Isabela Couto, facilitadora e psicoterapueta

Olá!
Um pouco sobre mim
Estudei Psicanálise e Psicologia, sou Cientista Religiosa e me considero uma divulgadora dos princípios sistêmicos, da filosofia de Bert Hellinger e da Constelação Familiar.
Especializei-me no Atendimento Individual Online de Constelação há mais de 8 anos e criei meu próprio método - já são cerca de 8500 clientes servidos através dessa metodologia.
Também trabalho com Terapia Breve Sistêmica, aplicando objetividade, breveza e acolhimento aos mais variados temas que surgem na clínica.
Publiquei 2 livros que estão disponíveis no meu site. Tem físico e tem e-book. Todo conteúdo visa esclarecer e aterrar. Gosto dum trabalho bem pé no chão!